Congo, 19 de fevereiro de 2025
Minha querida mãezinha
Estou a bordo de um barco num rio africano e escrevo-te para saber como estás. Quando estou no parapeito do barco, vejo as garças e os crocodilos a tomar banho no rio e lembro-me de ti, mãe… Nessas alturas, choro a pensar em todos os momentos que passámos juntos.
No tempo em que eu era criança, eras muito brincalhona e eu levava-te ao cinema para assistires à matiné infantil. Sei que gostas de filmes da Disney, porque, quando vias o filme do “Mufasa”, os teus olhos brilhavam e a tua boca ficava aberta de espanto.
Nas poucas vezes em que vou a terra, os habitantes recebem-me em suas casas e oferecem-me pratos de fruta e carne de que eu gosto muito, mas nenhum deles é tão bom como o teu bacalhau com natas ou o teu bife com batatas fritas. Até o teu caldo verde é mais saboroso que a sopa de amendoim que comi aqui.
Quando o barco fica preso nas algas do rio, sento-me na margem a olhar para a verdura das árvores. Aí, penso nos teus cabelos e nos teus beijinhos. Mas os mosquitos são traquinas e, se me picam, deixo logo de sonhar e volto a correr para o barco.
Por vezes, vejo macacos e pavões com os filhotes a beber água nas margens e fico com vontade de chorar. Os bichinhos estão com os pais e eu estou sozinho sem a minha mãezinha. Só não choro porque tenho medo que alguém goze comigo. Quando não consigo fingir que está tudo bem, tapo a cabeça com um cobertor.
Quando puder, volto para casa, mato saudades, abraço-te e adormeço no teu colo.
Um grande beijo do filho que muito te ama
Luís de Camomila
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