domingo, 22 de outubro de 2017

Dança Indigesta

Certa vez vi-me sob grande ameaça de morte singular no Mediterrâneo: eu banhava-me naquele mar agradável, próximo a Marselha, numa tarde de verão, quando descobri um peixe de enormes proporções e de mandíbulas escancaradas, que se aproximava de mim a grande velocidade; não havia tempo a perder, nem eu tinha meios de fugir dele. Imediatamente encolhi-me ao menor tamanho possível, recolhendo os pés e envolvendo-me com os braços; nessa posição passei direto por entre suas mandíbulas, indo parar no estômago do animal, onde passei algum tempo imerso em total escuridão e confortavelmente aquecido, como os senhores podem imaginar; finalmente ocorreu-me que se lhe causasse algum incómodo ele poderia pensar em se ver livre de mim: como tivesse muito espaço à disposição, iniciei minhas travessuras, tais como atirar-me no chão, pular, andar de um lado para o outro e dar cabriolas etc., mas nada o parecia perturbar tanto como o movimento rápido de meus pés enquanto eu dançava; até que ele soltou um horrível rugido e ergueu-se, ficando quase perpendicular à água, com a cabeça e os ombros expostos, sendo logo descoberto pela tripulação de um navio mercante italiano que velejava por ali e que lhe cravou um arpão minutos depois.
As Aventuras do Barão de Münchhausen, Rudolph Erich Raspe, 1785
Nada o parecia perturbar tanto como o movimento rápido de meus pés enquanto eu dançava.

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