quarta-feira, 15 de março de 2023

Deixe-me em Paz II

  Estava a chover e as bombas caíam na calçada. O taxista esperava por clientes dentro do táxi, mas não havia ninguém na rua. Ele já tinha reparado que as pessoas não gostavam de sair à rua quando havia bombas a rebentar na avenida e, portanto, resignou-se a esperar. Mas, quando menos esperava, aproximou-se um estranho que pediu:

  - Deixe-me em Paz, se faz favor!

  - Como disse? Eu não lhe fiz mal nenhum! - defendeu-se o taxista.

- Deixe-me em Paz, a vila que fica do outro lado das montanhas. - explicou o estranho.

  - Ah, com certeza! Entre que eu levo-o lá!

  O táxi arrancou e o motorista perguntou:

  - Então, o que o leva a querer ir a Paz? Lá não se passa nada...

  - Não se passa nada? Não há bombas, não há pessoas a bater em pessoas, não há roubos ou discussões.   E nisso você tem razão, não se passa nada, mas veja bem... Lá temos escuteiros a cantar à volta da fogueira, piqueniques, jogos de futebol, torneios de pingue-pongue e jantares no restaurante. Não é isso bem mais interessante que uma guerra ou mais estimulante do que o crime nas ruas?

  - Mas essas coisas não passam nas notícias. Não têm gosto nem sabor...

  - Ora, meu caro senhor. Não tenho vontade nenhuma em aparecer nas notícias. Não quero ser entrevistado por me ter caído uma bomba no telhado. Ou por ter ficado sem a carteira enquanto fazia compras no shopping. Ou por ter partido uma vitrina de uma loja só porque me apeteceu. Quero paz e sossego. Portanto, deixe-me em Paz.

  E o taxista assim fez. Mas como não gostava de viver longe do barulho das bombas, regressou à sua cidadezinha. Uma semana depois, enquanto foi comprar o jornal à tabacaria, uma bomba caiu-lhe em cima do táxi. 

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